CINEMA E HISTÓRIA

CINEMA E HISTÓRIA

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Adeus Minha Concubina




Adeus Minha Concubina
Ba Wang Bie Ji. CHI/HKO, 1993, 171 minutos. Direção: Kaige Chen. Elenco: Leslie Cheung, Fengyi Zhang, Li Cong. Contexto histórico: a China do século XX, antes e depois da Revolução Comunista de 1949, as tradições imperiais anteriores a China vermelha, a repressão do regime de Mao Tsé-Tung. Sinopse: o filme conta a história de dois atores da ópera de Pequim que se tornam famosos representando o rei e a cortesã da peça “Adeus Minha Concubina”, até que um deles se apaixona por uma prostituta, motivando um estranho comportamento no colega. Ponto forte: a história da China aparece permanentemente como pano de fundo: a herança imperial, a guerra civil, a revolução cultural comunista. O drama expõe a interferência dos governos autoritários na cultura e a perigosa confusão entre a ficção e a vida real. Mesmo sob censura, Kaige Chen conseguiu uma história cheia indicativos que denunciam a repressão do regime chinês. Um filme sensível, em que a narrativa é detalhadamente construída e centrada em um tema bastante delicado: a lealdade. Os figurinos e os cenários são impecáveis. Palma de Ouro em Cannes. Primeiro filme chinês a ganhar esse prêmio.

Adeus, Lênin



Adeus, Lênin

Good Bye, Lenin! ALE, 2002, 118 minutos. Direção: Wolfganger Becker. Elenco: Daniel Brühl, Katrin Sass, Florian Lukas. Contexto histórico: a Queda do Muro de Berlim no final da Guerra Fria, a passagem do regime comunista para o sistema capitalista na Alemanha Oriental e a reunificação alemã. Sinopse: um filho dedicado (Alexander) tenta evitar que a mãe, uma devota seguidora do comunismo, descubra que o sistema ruiu na Alemanha Oriental. A mãe não pode ter nenhuma emoção forte, pois acabou de sair do estado de coma. Alexander busca, então, recriar a antiga Alemanha Oriental, inclusive produzindo falsos noticiários televisivos. Ponto Forte: o filme mostra de maneira descontraída, mas ao mesmo tempo precisa, a acelerada desconstituição da antiga Alemanha Oriental comunista a partir da queda do muro de Berlim e, principalmente, a dificuldade de adaptação das pessoas ao novo sistema capitalista. Aparentemente a temática pode parecer complexa, mas a narrativa é leve e divertida, e o enredo criativo. A questão da queda do comunismo perpassa todo o filme, que usa como representação desse fato a remoção de uma estátua de Lênin e como símbolo da chegada do capitalismo um balão dirigível com propaganda da coca-cola. O enredo critica o imobilismo e a apatia do comunismo da antiga Alemanha Oriental, usando como personificação do fracasso desse sistema o motorista de táxi que revela ao protagonista ter sido um famoso cosmonauta no auge da corrida espacial. Esse havia sido o ídolo de infância de Alexander.
Imperdível.


Adeus, Meninos



Adeus, Meninos

Au Revoir les Enfants. FRA /ALE, 1987, 103 minutos. Direção: Louis Malle. Elenco: Gaspard Manesse, Raphael Fejto, Francine Racette. Contexto histórico: a França ocupada pelo nazismo durante a Segunda Guerra. O país está dividido entre os colaboracionistas e a resistência à ocupação alemã. Os colaboracionistas abertamente apoiavam o nazismo, beneficiando-se desta situação. Sinopse: um garoto (Julien) de 12 anos vê seu cotidiano transformado pela invasão dos nazistas à França e, principalmente, à sua escola (um colégio católico para crianças de posse). O menino havia feito amizade com três novos alunos, meninos que corriam perigo por serem judeus e estavam sendo protegidos pelos padres, que por isso, também passaram a correr perigo. A tragédia se dá quando Julien, sem querer, denuncia seus amigos, enviando-os para a morte nos campos de concentração. Ponto Forte: a humanização do contexto histórico, abordado por meio de um menino que vai compreendendo lentamente as atrocidades do nazismo. Filme lírico e autobiográfico que fala de culpa, amizade e delação. Vencedor do festival de Veneza.



Adivinhe Quem Vem Para Jantar


Adivinhe Quem Vem Para Jantar
Guess Who’s Comming to Dinner. EUA, 1967, 103 minutos. Direção: Stanley Kramer. Elenco: Spencer Tracy, Sidney Poitier, Katharine Hepburn. Contexto histórico: o racismo na sociedade norte-americana e o casamento inter-racial incomum nos Estados Unidos na década de 1960. Sinopse: casal tradicional desaprova o noivado da filha com um negro, mesmo ele sendo um médico conceituado e uma pessoa íntegra. Ponto forte: o filme toca em uma ferida profunda da sociedade norte-americana: o racismo que não é social, mas puramente racial, de cor. O país, acostumado a separações raciais, em que os índios foram colocados em reservas e os negros em bairros específicos, criou uma espécie de “racismo de massa”, que se revela, mais explicitamente, no caso do cantor Michael Jackson, que mesmo famoso e milionário, passou por um estranho processo de branqueamento, para “ser aceito” do “outro lado”, do “lado dos brancos”. Neste racismo que não é meramente social, como o brasileiro, não basta apenas ascender socialmente, mas é preciso ficar literalmente branco. O filme recebeu oito indicações para o Oscar, vencendo roteiro original e melhor atriz (Katharine Hepburn). Os diálogos precisos e inteligentes explicitam os preconceitos tanto dos brancos quanto dos negros.

Agente 86



Agente 86
Get Smart. EUA, 1965/1970, 24 minutos (cada episódio). Direção: Gary Nélson, Bruce Bilson, Don Adams Elenco: Don Adams, Bárbara Feldon, Edward Platt. Série televisiva que foi ao ar entre 1965 e 1970 nos Estados Unidos, totalizando cento e trinta e oito episódios. No Brasil, o seriado foi exibido até o início da década de 80. Sátira aos filmes de espionagem, típicos do período da Guerra Fria. A série brinca com as estratégias e os artefatos da época: códigos secretos, senhas, tintas invisíveis, compartimentos secretos. O objeto que ficou mais conhecido foi o sapato-fone do agente Maxwell Smart. Os episódios narram a eterna briga entre o bem e o mal, ou seja, entre o Controle (analogia da CIA, serviço secreto norte-americano) versus a K.A.O.S. (KGB, serviço secreto da União Soviética). O ponto alto da série é o quinto episódio da segunda temporada, Agente disfarçado, que foi ao ar originalmente em 15 de outubro de 1966, onde aparece esse premonitório diálogo:

Chefe: - Se conseguíssemos secar a fonte de dinheiro deles (K.A.O.S.), eles estariam fora do ramo.
Agente 86: - Espera aí, chefe! O que acontecerá com a gente?
Chefe: - Acho que a organização Controle ficaria sem trabalho e não haveria mais necessidade de nós...
Agente 86: - E eu? Eu só sei ser um agente. Quem sabe não podemos nos unir e ajudar a KAOS a continuar com os seus negócios.
Chefe: - Isso é ridículo. Seria como a polícia ajudando o crime organizado. O que você acha disso?
Agente 86: - Está funcionando nas grandes cidades...

Por que premonitório? Ao final da Guerra Fria, nos últimos anos da década de 80, muitos agentes da CIA, temendo perder o emprego, por não serem mais necessários, planejaram atentados para culpar os comunistas. Buscavam, desta forma, manter seu trabalho, como retrata o filme norte-americano Swordfish (A Senha), de 2001, dirigido por Dominic Sena com John Travolta e Hugh Jackman.

Houve três versões cinematográficas da série, duas com o elenco original: The Nude Bomb - A Bomba Desnuda (1980) e Agente 86... De novo? – Get Smart, Again? (1989). A versão mais recente é de 2008, chamada Agente 86: O Filme. No Brasil, um livro especialmente dedicado à série foi publicado em 2008, Agente 86 – O Velho Truque do Livro Cheio e Curiosidades.


Alexandre




Alexandre
Alexander. EUA, 2004, 176 minutos. Direção: Oliver Stone. Elenco: Colin Farrel, Val Kilmer, Angelina Jolie, Christopher Plummer, Anthony Hopkins, Jared Leto, Connor Paolo. Contexto histórico: a vida e as conquistas militares do imperador macedônico Alexandre, o Grande, no Século IV a.C. Alexandre foi o primeiro a conseguir juntar Ocidente e Oriente em um mesmo Império, criando uma cultura única, como forma de dominação dos diversos povos. A cultura helenística fundia elementos religiosos do oriente com elementos racionais do ocidente. A idéia era: um império, um rei, uma cultura. Alexandre percebeu que a melhor forma de dominar um povo, aquela mais contínua e discreta, é através da cultura, quando o dominador impõe a sua cultura sobre o dominado. Sinopse: retrata a vida de Alexandre, com destaque para as suas conquistas militares e relações pessoais, principalmente com a mãe Olímpia. Ponto Forte: a fidelidade histórica, a vida e a trajetória militar do imperador macedônio. A coragem de não ocultar Hefestião, companheiro de Alexandre, e a reconstituição das batalhas e das estratégias militares. Na verdade, o filme se detém nas conquistas militares e faz uma exaltação do expansionismo territorial promovido por Alexandre (não podemos esquecer que o diretor é norte-americano!). Stone consegue colocar por três vezes em cena – sempre de forma discreta e bem inserida – o mapa do mundo antigo, tornando a obra bastante didática. Apesar da acusação de criar uma história excessivamente edipiana, por ressaltar em demasia a relação entre Alexandre e sua mãe – pois chega ao exagero de mostrar as conquistas militares como a forma que Alexandre encontrou para ficar longe da dominadora Olímpia –, o filme constrói um personagem fascinante e muito próximo do real. Imperdível.

Alexandre, o Grande


Alexandre, o Grande
Alexander the Great. EUA/ESP, 1956, 135 min. Direção: Robert Rossen. Elenco: Richard Burton, Fredric March, Danielle Darrieux, Claire Bloom. Sinopse: o filme narra desde a adolescência de Alexandre até a sua vitória na Pérsia (331 a.C.). Ponto forte: épico típico do período, com milhares de figurantes e excelente elenco. Mostra a vida tumultuada de Alexandre, a relação com o professor Aristóteles e com os pais. Aparecem também algumas inovações militares do período, como o uso de lanças mais compridas. O filme se detém, excessivamente, no personagem Alexandre, como o único gerador da expansão macedônica e, além disso, os diálogos são exageradamente eloqüentes (“É muito bom viver com coragem”).


A letra da canção Alexandre, de Caetano Veloso é precisa nas informações e, ainda assim, extremamente poética, com ricas figuras de linguagem. A gravação original está no CD intitulado Livro, de 1997. Outra opção é a gravação de Adriana Calcanhoto, no CD Partimpim II, de 2009, onde a canção foi “limpada”, a cantora simplificou ao máximo a melodia, dando destaque especial à letra:

“Ele nasceu no mês do leão,
sua mãe uma bacante
E o rei seu pai,
um conquistador tão valente,
que o príncipe adolescente pensou que já nada restaria
pra, se ele chegasse a rei, conquistar por si só.
Mas muito cedo ele se revelou um menino extraordinário:
O corpo de bronze,
os olhos cor de chuva
e os cabelos cor de sol.

Alexandre... de Olímpia e Felipe
o menino nasceu, mas ele aprendeu
que seu pai foi um raio
que veio do céu

Na grande batalha de Queronéia,
Alexandre destruía a esquadra Sagrada de Tebas,
chamada Invencível.
Aos dezesseis anos,
só dezesseis anos, assim já exibia
Toda a amplidão da luz
do seu gênio militar.[...]
Feito rei aos vinte anos
Transformou a Macedônia,
Que era um reino periférico, dito bárbaro,
em esteio do helenismo e dos gregos, seu futuro,seu sol”.