CINEMA E HISTÓRIA

CINEMA E HISTÓRIA

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Guerra dos Pelados



A Guerra dos Pelados
BRA, 1970, 98 minutos. Direção: Sylvio Back. Elenco: Átila Lório, Jofre Soares, Stênio Garcia, Otávio Augusto. Contexto histórico: rebeliões da República Velha, mais especificamente a Guerra do Contestado (1912-1916), a rebelião messiânica ocorrida em Santa Catarina, liderada pelo profeta José Maria. O motivo é a miséria em que viviam os colonos da região. O governo brasileiro cedeu a uma empresa estrangeira a região de onde os colonos tiravam seu sustento através do corte da madeira, transformando-os de pobres em miseráveis. A resistência dos colonos provocou a Guerra. Sinopse: o filme reproduz uma das batalhas da Guerra do Contestado, realizada em 1913, e que teve a vitória do exército brasileiro. Ponto Forte: a obra discute questões como miséria, violência social, religiosidade e a posse da terra. Cuidadosa reconstituição das batalhas. Quando presos, os rebeldes tinham a cabeça raspada, por isso, Guerra dos pelados. Baseado em pesquisa e no romance Geração do Deserto, do catarinense Guido Wilmar Sasi. Filme censurado no governo Médici. Bela tentativa de construir um épico brasileiro.

A Hora da Estrela



A Hora da Estrela
BRA, 1985, 96 minutos. Direção: Susana Amaral. Elenco: Marcélia Cartaxo, José Dumont, Fernanda Montenegro. Contexto histórico: o Brasil do milagre econômico, ditadura militar, período da grande migração para o “sul maravilha”, nordestinos em busca de trabalho nas indústrias do sudeste. Sinopse: o filme mostra o cotidiano de uma jovem nordestina semi-analfabeta chamada Macabéa em São Paulo. O companheiro mais íntimo dela é o seu radinho de pilha, até que ela conhece um metalúrgico, também nordestino, com quem inicia um desajeitado romance. Ponto forte: esse é o filme que melhor reproduz o drama dos nordestinos recém-chegados aos grandes centros urbanos na onda de migração da década de 70 incentivada pelo Regime Militar. Baseado e bastante fiel ao romance homônimo de Clarice Lispector. O filme recebeu prêmios nos festivais de Berlim, Havana e Brasília. A atriz Marcélia Cartaxo venceu o prêmio de melhor atriz em Cannes.

O Incrível Exército de Brancaleone




O Incrível Exército de Brancaleone
L’armada Brancaleone. ITA, 1965, 116 minutos. Direção: Mario Monicelli. Elenco: Vittorio Gassman, Gian Maria Volonté, Catherine Spaak. Contexto histórico: período da Baixa Idade Média (X-XV). Sinopse: o filme narra a longa jornada de um exército miserável e desorganizado que parte para conquistar um feudo, liderados por um cavaleiro-nobre falido, Brancaleone de Nórcia, cujo a única propriedade é um cavalo que não o obedece. Ponto forte: apesar de ser uma comédia, é um excelente retrato da Idade Média, por brincar com as crenças, os costumes, os rituais e com os mitos do período: o medo da Peste Negra, a fome, os judeus heréticos, o fanatismo religioso, os cruzados, os códigos de cavalaria. Imperdível.
Brancaleone nas Cruzadas
ITA, 1970, 119 minutos. Direção: Mario Monicelli. Elenco: Vittorio Gassman, Adolfo Celi. Contexto histórico: período da Baixa Idade Média. Sinopse: nessa segunda aventura, Brancaleone tem a missão de conduzir um bebê que havia sido raptado até a Terra Santa. No caminho encontra bizarros personagens: um eremita, uma bruxa, um leproso e a própria figura da morte. Ponto forte: estrutura similar ao primeiro, porém, essa continuação é centrada na sátira do fanatismo religioso: fogueiras, bruxarias, inquisição e a busca do cálice sagrado. Inferior ao filme original.

A Insustentável Leveza do Ser



A Insustentável Leveza do Ser
The Unbearable Lightness of Being. EUA, 1988, 171 minutos. Direção: Philip Kaufman. Elenco: Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin. Contexto histórico: a invasão da Tchecoslováquia por tropas da União Soviética em agosto de 1968 para acabar com o movimento conhecido como Primavera de Praga, um amplo programa de reformas políticas, econômicas e sociais, como a eliminação da censura. Sinopse: o filme mostra a relação idílica entre uma expansiva artista plástica, uma ensimesmada garçonete e um jovem médico bem sucedido, que é interrompida quando tropas soviéticas invadem a cidade de Praga. Ponto forte: o drama consegue misturar sexo, política, traição, repressão institucionalizada, liberdade e filosofia. Baseado no livro clássico de Milan Kundera, autor tcheco dissidente, que crítica o comunismo soviético. Mesmo com a violência da invasão, a paixão continua, os sentimentos humanos continuam, por mais pesada que seja a violência, a “insustentável leveza do ser” é perene. Destaque para as cenas onde as imagens dos atores são misturadas com imagens reais da ocupação de Praga (foto). Embora a produção seja norte-americana, o filme é tipicamente europeu.

Jango


Jango
BRA, 1984, 110 minutos. Direção: Sílvio Tendler. Documentário que mostra a trajetória de João Goulart, enfatizando o período de 1961 até o Golpe Militar de 1964. O presidente Jânio Quadros renuncia a presidência em 25 de agosto de 1961 e, segundo a constituição vigente quem deveria assumir era o vice João Goulart. Acontece que Jango era classificado como comunistas pelas forças armadas que impedem a sua posse. Os ministros militares declaram estado de sítio com a finalidade de impedir a posse. O Rio Grande do Sul organiza o movimento da Legalidade, uma resistência armada contra a tentativa de golpe. Estava gerada uma grande crise e uma ameaça real de guerra civil. A solução para o impasse foi Goulart assumir a presidência com poderes limitados, devido à adoção do parlamentarismo, através de uma emenda constitucional. O Brasil retornaria ao presidencialismo, dois anos depois, quando Jango sai vitorioso de um plebiscito popular. O filme é narrado por José Wilker e contem imagens raríssimas: o enterro de Getúlio, Jango na China, as barricadas nas ruas de Porto Alegre, o comício da central do Brasil e os filmes produzidos pelo IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) contra o governo Goulart.

Os filmes do IPES: sob o pretexto de proteger o Brasil da “ameaça comunista", leia-se das Reformas de Base, o IPES, ao longo de dois anos, trabalhou para desestabilizar o governo Goulart. A ação do Instituto foi decisiva para o sucesso do golpe militar. A organização inicia em agosto de 1961, devido à chegada do comunismo na América com a Revolução Cubana. Um grupo de “empresários e democratas para o progresso” reuniu-se “cônscios de sua responsabilidade na vida pública do país”. (frases retiradas da ata de fundação do Instituto). Os filmes produzidos pelos IPES, dirigidos pelo cineasta Jean Manzon e com roteiros do escritor Rubem Fonseca, eram exibidos nos cinemas antes do filme principal e destacavam “o caráter ateu do comunismo e a ameaça contra a família e a propriedade”. Os curta, de cerca de 10 minutos cada, mostravam imagens chocantes que misturavam nazismo, stalinismo e o governo Goulart: “O que estamos fazendo nós para impedir que se coloque diante do povo brasileiro a trágica opção entre soluções antidemocráticas? A omissão é um crime. Isolados seremos esmagados. Somemos nossos esforços. Orientemos num sentido único a ação dos democratas para que não sejamos vítimas do totalitarismo”.

O Jardineiro Fiel




O Jardineiro Fiel
The Constant Gardener. ING, 2005, 129 minutos, censura 14 anos. Direção: Fernando Meirelles. Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Daniele Harford. Contexto histórico: atual, a miséria e a exploração do continente africano. Sinopse: o filme mostra uma ativista dos direitos humanos que é encontrada morta no Quênia. O marido, um diplomata inglês, investiga o que aconteceu com a esposa, supostamente infiel. Ponto forte: Ficção com técnica documental que denuncia a indústria farmacêutica e a contínua devastação do continente africano: agora já não são apenas as riquezas naturais que são roubadas pelos europeus, mas vidas humanas, usadas como “cobaias”. Baseado em livro de John Le Carré. O filme mistura política e sentimentos pessoais na medida certa, e denuncia a perversidade da ação das grandes corporações na África.

Joana D’arc


Joana D’arc
The Story of Joana of Arc. EUA, 1999, 155 minutos. Direção: Luc Besson. Elenco: Milla Jovovich, Dustin Hoffman, Faye Dunaway. Contexto histórico: Guerra dos Cem anos entre França e Inglaterra (1337-1453). Foi a partir desse conflito que se formaram os dois países. Sinopse: A história da camponesa analfabeta que comandou o exército francês na Guerra dos Cem Anos, inspirou a unidade da França e acabou
queimada na fogueira da inquisição, aos 19 anos de idade. Ponto forte: a narrativa simples, de forma direta e cronológica. Boa reconstituição de época.

Jogos do Poder


Jogos do Poder
Charlie Wilson’s War. EUA, 2007. Direção: Mike Nichols. Elenco: Tom Hanks, Julia Roberts, Amy Adams.Contexto histórico: a invasão do Afeganistão pela União Soviética em 1979, o apoio norte-americano à resistência afegã e o surgimento de grupos terroristas na região. Sinopse: em 1980, um deputado texano envia dinheiro para rebeldes afegãos enfrentarem o exército soviético. Ponto forte: uma reflexão no gênero comédia. O filme explica o terrorismo islâmico como uma conseqüência das intervenções norte-americanas no Oriente Médio na década de 80. Na época, para enfrentar os soviéticos, os americanos armaram os talibãs do Afeganistão. Com o fim da URSS, em 1991, esses ativistas armados mudaram de alvo, formaram grupos como a Al-Qaeda e se voltaram contra outro império, os Estados Unidos. O filme pessoaliza, em excesso, a questão, colocando toda a culpa no deputado, mas tem o mérito de levantar a problemática da colaboração dos Estados Unidos para a criação do terrorismo no oriente.

O Labirinto do Fauno






O Labirinto do Fauno
El Laberinto del Fauno. MEX/ESP/EUA, 2006. 118 minutos, 16 anos. Direção: Guillermo Del Toro. Elenco: Ivana Baquero, Sergi Lopez, Maribel Verdú. Contexto histórico: a resistência ao regime violento de Franco, logo após a vitória dos nacionalistas na Guerra Civil Espanhola. Sinopse: uma menina vai morar com a mãe na fazenda do padrasto, um sádico oficial do exército franquista. Neste local, ela encontra um labirinto e descobre que é uma princesa, através de um fauno bastante suspeito. Ponto forte: a obra inova ao misturar três gêneros de difícil combinação: filme de guerra com filme de terror e conto de fadas, mas erra ao usar de forma desmedida o recurso da violência e por não cruzar, de forma coerente, o mundo real com o mundo da fantasia. Os dois mundos, o real e o da fantasia, são violentos, sufocantes e sombrios. A figura desumana e violenta do personagem Vidal, capitão do exército nacionalista-fascista, é uma representação do general Franco. Vencedor do Oscar de fotografia, direção de arte e maquiagem.

Lamarca



Lamarca
BRA, 1994, 129 minutos, 14 anos. Direção: Sérgio Rezende. Elenco: Paulo Betti, Carla Camurati, Nelson Dantas. Contexto histórico: a Luta Armada contra o Regime Militar no Brasil. Sinopse: o filme conta a vida do guerrilheiro Carlos Lamarca, ex-capitão do exército que desertou e passou para a guerrilha armada contra o Regime Militar em 1969, ingressando na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Ponto forte: o filme não se limita em mostrar as organizações guerrilheiras clandestinas e o clima de terror do período, mas apresenta a bem estruturada máquina repressiva do Estado, a tomada de consciência de Lamarca e seus últimos dias escondido no interior do Rio de Janeiro. O guerrilheiro foi assassinado em 1971.


O Leitor


O Leitor
The Reader. EUA/ALE, 2008, 124 minutos, 16 anos. Direção: Stephen Daldry. Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross. Contexto histórico: Alemanha após a queda do nazismo. Sinopse: mulher analfabeta de meia idade se apaixona por adolescente em Berlim. Em uma “troca de favores”, ela lhe ensina os prazeres do sexo e ele os prazeres da leitura. Após um tórrido romance, ela desaparece sem dar explicações. Ele só a reencontra oito anos depois em um tribunal, sendo acusada de crime de guerra, pois havia trabalhado como guarda em um campo de concentração nazista. Ponto forte: a história pessoal serve para mostrar uma questão extremamente complexa: a culpabilidade dos trabalhadores comuns durante o nazismo. Qual a culpa do porteiro de um campo de concentração em relação aos extermínios? Ele cumpria ordens ou compactuava com os assassinatos em massa? Qual a culpa daqueles que executavam ordens superiores? O filme é sufocante, envolvente e brilhante, principalmente na sua última meia hora. Excelente construção da personagem Hanna. A atuação da atriz Kate Winslet beira a perfeição. Imperdível.

Lemon Tree



Lemon Tree
Etz Limon. ISR/ALE/FRA, 2008, 106 minutos. Direção: Eran Riklis. Elenco: Hiam Abbass, Ali Suliman, Tarik Kopty. Contexto histórico: atual, os conflitos religiosos do Oriente Médio. Sinopse: uma viúva de baixo poder aquisitivo tira o seu sustento de uma plantação de limões que sua família mantém há meio século. Ela se vê obrigada pelo governo de Israel a destruir o seu pomar por uma questão de segurança nacional: o ministro da defesa se mudou para o terreno ao lado e a polícia teme que terroristas se escondam entre os limões. A viúva recorre aos tribunais. Ponto forte: uma forma original e inusitada de retratar o conflito entre árabes e judeus no Oriente Médio. Baseado em uma história verídica.


Leões e Cordeiros




Leões e Cordeiros
Lions for Lambs. EUA, 2007. Direção: Robert Redford. Elenco: Tom Cruise, Meryl Streep, Robert Redford, Peter Berg, Michel Peña. Contexto histórico: atual política externa norte-americana, Guerra do Iraque. Sinopse: o filme ocorre em três frentes: as operações do exército norte-americano no Afeganistão; a tentativa de um professor de ciências políticas em motivar um aluno, com excelente potencial, mas desiludido com os rumos da política norte-americana e a exposição das idéias de um senador conservador republicano para eliminar os inimigos dos Estados Unidos para uma questionadora jornalista. Ponto forte: a obra intelectual, militante e pacifista de Robert Redford, discute a ética e os princípios da política internacional norte-americana. Trabalha a tríade: política, educação e imprensa, sempre sobre a temática da guerra. O filme lembra também que a imprensa apoiou a invasão ao Iraque, e que ela não admitiu o seu erro até hoje (“o seu canal abria as reportagens sobre a invasão ao Iraque com a imagem de uma enorme bandeira americana, um fuzileiro batendo continência e uma águia voando com uma música emocionante”). Explicita o cinismo dos políticos e dos jornalistas em relação a essa guerra. A tese defendida é a de que os erros norte-americanos foram movidos pelo medo que se instalou após o 11 de setembro. As três histórias de alguma forma se entrelaçam. Uma cena mostrando a morte de dois soldados americanos representa o fracasso de uma nova forma de invasão militar ao Oriente Médio, ao mesmo tempo em que o senador elogia essa nova estratégia militar. O senador utiliza uma frase do ex-presidente Rossevelt, pai do Big Stick (política do grande porrete ou diplomacia do porrete: conversar amigavelmente com os países vizinhos da América, mas sempre levando um grande porrete na mão) para justificar as guerras: “Se eu tiver que escolher entre a justiça e a paz, eu escolho a justiça”. A jornalista funciona como uma espécie de voz da consciência americana: - Porque mandamos 150 mil soldados para um país que não nos atacou [Iraque] e um décimo dessa quantidade para o que nos atacou [Afeganistão]? O que nós fizemos nesses últimos seis anos? A Segunda Guerra Mundial durou menos de cinco”. O diretor utiliza o recurso de deixar o final do filme em aberto.
O mais interessante de Leões e Cordeiros são os diálogos entre o senador republicano (Tom Cruise) e a jornalista:

Senador: - Só depois de erradicarmos o inimigo é que poderemos estabelecer o que é preciso para fazer com que esta nova democracia funcione
Jornalista: - È basicamente matar o povo para ajudar o povo...

Senador: - “Somos o partido [republicano] que mostra a todos os tiranos que os Estados Unidos tem coragem e vontade para terminar nossas lutas”
Jornalista: “É uma das piores épocas para ser americano”
Senador: - “Eu estou farto do nosso pais ser ameaçado por essa gentinha, essas gangues tribais”.

Senador: - O Irã...
Jornalista: - Irã? O que fizeram agora?
Senador: - Além de construir armas nucleares, de conversar com a Coréia do Norte e de falar que Israel não sabe o que é um holocausto real? Eles estão permitindo que insurgentes viajem do Iraque até o Afeganistão pela rota mais rápida...
Jornalista: - Isso foi confirmado?
Senador: - Há um novo eixo do mau...
Jornalista: - Nossa! Mil e trezentos anos de conflitos entre sunitas e xiitas deixados de lado para que possam matar mais americanos em mais lugares...
Senador: - Esses radicais estão se unindo contra nós... [São uma] ameaça significativa a nossa segurança [...] o Irã tem potencial nuclear [Devemos] proteger o povo americano

Senador: -Estamos envolvidos em um luta infelizmente, as civilizações não adquirem respeito através de respostas não violentas. Saddan violou 16 resoluções da ONU [...] Enquanto a França, a China e a Rússia seguiam negociando com ele por debaixo dos panos...
Jornalista: - Nós também não armamos Saddan nos anos 80?
Senador: - Primeiro vamos matar o inimigo e depois reconstruir o país...

O Leopardo



O Leopardo
Il Gattopardo. ITA, 1963, 185 minutos. Direção: Luchino Visconti. Elenco: Burt Lancaster, Alain Delon, Cláudia Cadinale. Contexto histórico: a incorporação da Sicília à unificação italiana no final do século XIX. A queda das aristocracias locais em detrimento de um projeto burguês de país, centralizado e capitalista, liderado pelo reino de Piemonte-Sardenha. A resistência da aristocracia às mudanças promovida por Garibaldi na anexação da Sicília. Sinopse: acompanha a decadência do aristocrata com os novos rumos políticos na Itália. Essa decadência é personificada em Salina, que arranja um casamento entre seu sobrinho e a filha de um rico burguês, a união representa a tradição necessitando do poder econômico da nova classe em ascensão social. O filme enfatiza a aliança aristocracia-Igreja e uma nova tentativa de aliança entre a burguesia e a antiga aristocracia na unificação do país. Ponto forte: mostra com clareza didática a ascensão da burguesia em detrimento da tradicional aristocracia empobrecida. Salina chega a afirmar: “Sou um componente da velha classe fatalmente comprometido com o regime passado e ligado a este por vínculos de decadência mais que por afeto. A minha geração é infeliz, dividida entre dois mundos e pouco a vontade em qualquer um deles”. No entanto, o aristocrata Salina possui um ampla visão política: “As coisas precisam mudar para continuarem as mesmas”, “Sabe o que está acontecendo no nosso país? Nada, só uma imperceptível substituição de classes”. Baseado no romance homônimo de Tomaso de Lampedusa. Há uma identificação de Visconti com o romance, pois o diretor era filho de um conde, apesar de comunista declarado. O baile final funciona como uma alegoria da decadência da aristocracia. Atenção para a preciosa e detalhada pesquisa do vestuário do período e da constituição dos cenários. Obra contemplativa e intelectual, de enorme força estética, um pouco lenta para os padrões atuais. Palma de ouro em Cannes.

O tom cínico e cético do personagem Salina, que foi magnificamente interpretado por Burt Lancart, aparece na descrição de sua vida íntima: “O amor é fogo ardente durante um ano, cinzas durante trinta [...] a nudez do corpo é muito mais inocente que a nudez da alma”. Salinas teve sete filhos com sua esposa, uma católica fervorosa, mas nunca viu “o seu umbigo”.

O filme apresenta uma definição preciosa de aristocracia: “Eles não são fáceis de entender. Vivem em um universo particular, criado não por Deus, mas por eles mesmos. Eles se afligem ou se alegram por coisas que para nós não tem nenhuma importância”.
As Loucuras de Dick e Jane

As Loucuras de Dick e Jane



As Loucuras de Dick e Jane
Fun with Dick and Jane. EUA, 2005, 90 minutos. Direção: Dean Parisot. Elenco: Jim Carrey, Téa Leoni, Alec Baldwin.Contexto histórico: a atualidade marcada pela competição profissional, mercado financeiro, grandes corporações. Sinopse: o filme conta a história de um casal que passa da situação estável ao desespero devido ao desemprego do marido. Primeiro, eles passam a trabalhar em serviços subalternos. Dick chega a ser confundidos com imigrantes mexicanos ilegais e Jane deforma momentaneamente o rosto, servindo como cobaia para produtos cosméticos. A solução, porém, encontrada pelo casal, será a marginalidade: viver da prática de pequenos assaltos à lojas de conveniência e às residências. Ponto Forte: crítica à crueldade e à competitividade do capitalismo atual, a especulação do mercado e a despreocupação social das grandes empresas com os seus empregados. O filme parece dizer: Ei, o sonho americano não falava em trapacear!

Machuca





Machuca
Machuca. CHI/ESP/ING/FRA, 2004, 121 minutos. Direção Andrés Wood. Elenco: Matías Quer, Ariel Mateluna. Contexto histórico: período de Salvador Allende (1970-1973), a articulação para o golpe militar de Pinochet. Sinopse: dois garotos de classes sociais diferentes estabelecem uma forte amizade, quando o governo Allende passa a estabelecer uma espécie de “cota” para crianças carentes em colégios da elite. Ponto forte: a história serve para mostrar as mudanças ocorridas no Chile, durante o governo socialista e a divisão do país. Ponto Fraco: a caracterização forçada da família de classe média alta como desajeitada e vazia e “a pobreza feliz” da família de Machuca. O final é trágico.


Maria Antonieta


Maria Antonieta
Marie Antoinette. FRA / JAP / EUA, 2006, 123 minutos. Direção: Sofia Coppola. Elenco: Kirsten Dunst, Marianne Faithfull, Steve Coogan. Contexto histórico: a monarquia dos Bourbons e os seus rituais, no período anterior à Revolução Francesa Sinopse: descreve a vida de Maria Antonieta a partir da sua chegada à França para casar-se com Luís XVI até o estopim da Revolução. Ponto Forte: o filme é uma interessante mistura de Sofia Copolla: uma tentativa de fazer um filme de época (figurinos, cenários), mas ao mesmo tempo contemporâneo (trilha sonora, comportamento, linguagem), desta combinação resulta uma obra atemporal, colorida e alegre. Visão simpática de uma Antonieta humanizada, quase uma defesa da personagem histórica. A obra mostra todos os rituais da monarquia francesa, a mais ritualística da Europa moderna. A monarquia é um sistema baseado em rituais e com um vestuário muito peculiar, que inclui cedro, coroa, mantos reais e vestidos com enormes armações. E toda essa indumentária era para fornecer uma visão de que o rei e a rainha eram especiais, acima das pessoas comuns.

O filme termina com o interior do palácio de Versalhes destruído, uma forma simbólica e sintética de mostrar o fim da monarquia e o início da Revolução Francesa. O palácio foi construído entre 1864 e 1682, no reinado de Luis XIV, o Rei Sol, sendo o maior palácio da Europa moderna. O complexo possui duas mil janelas, setecentos quartos e mais de mil lareiras. Versalhes virou símbolo da era absolutista. O palácio foi transformado em museu em 1837. É um dos pontos turísticos mais visitados no mundo, recebendo oito milhões de turistas por ano.

Mauá, o Imperador e o Rei




Mauá, o Imperador e o Rei
BRA, 1999, 134 minutos. Direção: Sérgio Resende Elenco: Paulo Betti, Malu Mader, Othon Bastos, Antonio Pitanga. Contexto histórico: Segundo Reinado, meados do século XIX. O café permitiu uma acumulação interna de capital levando ao desenvolvimento urbano, através de investimentos no setor financeiro, de transportes, de manufatura e de comércio, apesar da dependência externa em relação à Inglaterra, da manutenção do sistema agrário-escravista e do maior volume de capitais fosse aplicado na expansão da própria cafeicultura. A aprovação da Tarifa Alves Branco, que taxava os produtos estrangeiros, e da Lei Eusébio de Queirós, que abolia o tráfico negreiro e, assim, liberava capital para outras atividades econômicas, criou um pequeno surto industrial no Brasil, a chamada Era Mauá. Sinopse: a vida de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, pioneiro do investimento empresarial no Brasil. Ponto forte: é o único filme brasileiro que representa esse período e mostra que parte do dinheiro do café acabou se expandido para outros investimentos. Barão de Mauá fundou indústrias, construiu a primeira ferrovia brasileira, a primeira linha de bondes e linhas de telégrafo, virando símbolo do período, chamado de Era Mauá.

Mephisto



Mephisto
Mephisto. ALE/HUG/AUSTRIA, 1981, 166 minutos. Direção: István Szabó. Elenco: Klaus Maria Brandauer, Krystyna Janda. Contexto histórico: a Alemanha sob o regime nazista. Sinopse: um ator vaidoso se aproveita da instalação do nazismo para ganhar prestígio e fama, apesar de não concordar com a sua ideologia, colocando a sua carreira em primeiro lugar, mesmo tento consciência do mal do nazismo. Acaba tornando-se porta-voz das concepções artística-nacionalistas do regime, e como prêmio ganha espaço e projeção, tornando-se o ator mais popular da Alemanha, e o responsável pela política oficial do governo em relação ao teatro. Ponto forte: retrata a força de um regime autoritário e como esse consegue arrebatar colaboradores, principalmente aqueles que se aproveitam das benesses do governo. Baseado na história real do ator Gustaf Gründgens, que consagrou-se no teatro interpretando Mephisto, na peça Fausto, de Goethe. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro.

Mera Coincidência


Mera Coincidência
Wag the Dog. EUA, 1997, 97 minutos. Direção: Barry Levinson. Elenco: Dustin Hoffman, Robert De Niro, Anne Heche. Contexto histórico: atual. Sinopse: presidente norte-americano envolvido em escândalo sexual precisa concorrer à reeleição, por isso contrata um produtor de Hollywood para criar uma guerra fictícia na Albânia e desviar a atenção da opinião pública. O presidente, então, interviria para estabelecer a paz na região, ganhando prestígio e sendo reeleito. Ponto forte: os governantes, muitas vezes, utilizam a guerra como fator de fortalecimento do nacionalismo e do patriotismo para a união da população, para se manter no poder (Bismarck na unificação da Alemanha, Napoleão para unir os franceses após a Revolução Francesa, os militares argentinos na Guerra das Malvinas, a Guerra promovida pelo governo Bush contra o terror). A Parábola política explicita a manipulação da opinião pública pelos meios de comunicação.

O Mercador de Veneza






O Mercador de Veneza
The Merchant of Venice. EUA/ITA/LUX/ING, 2004, 134 minutos. Diretor: Michael Radford. Elenco: Jeremy Irons , Al Pacino, Lynn Collins, Joseph Fiennes. Contexto histórico: Wilian Shakespeare escreveu a peça no século XVI, período de crescimento do comércio marítimo e dos burgos. Veneza era o principal centro comercial da Europa. Sinopse: Rapaz pede ao amigo um empréstimo para que possa cortejar uma rica herdeira. O amigo recorre então a um comerciante judeu que lhe empresta o dinheiro, mas impõe uma condição: se a dívida não for paga em três meses, o devedor pagará com um pedaço de sua própria carne. A peça é injustamente considerada anti-semita. Ponto forte: o filme fornece à peça uma dimensão bastante interessante, explorando a dualidade dos personagens e deixando a dúvida: afinal quem são os mocinhos e os bandidos?
Os séculos XV e XVI são marcados por intensas mudanças no continente europeu. A maior de todas foi à volta da atividade comercial. O comércio era considerado um pecado pela Igreja católica, o pecado da usura, pois o homem deveria ganhar “o pão com o suor do seu rosto” e não com o “lucro fácil” obtido através da compra e venda de mercadorias. Se os católicos não podem fazer o comércio, os primeiros comerciantes nessa retomada serão os árabes e os judeus, pois suas religiões não condenavam as práticas comerciais. Os judeus se encontravam na Europa desde o século I d.C., quando foram expulsos da Judéia pelos romanos. Os árabes se encontravam na Europa desde o século VIII d.C., quando invadiram a Península Ibérica. Além disso, eram povos que já possuíam a tradição de praticar o comércio no oriente e tinham o conhecimento das práticas de compra e venda.

Metrópolis



Metrópolis
Metropolis. ALE, 1927, 120 minutos. Direção: Fritz Lang. Elenco: Alfred Abel, Gustav fröhlich, Brigitte Helm. Contexto histórico: A ambientação futurista serve como denúncia do presente, pois apresenta elementos típicos da década de 20, principalmente referentes à industrialização. Cinema mudo em preto e branco. Sinopse: Metrópolis é uma cidade dividida entre a superfície e o subterrâneo. A superfície é a parte luxuosa e rica, graças à exploração dos trabalhadores que vivem no subterrâneo e possuem uma jornada de dez horas diárias. Um cientista cria, em laboratório, um clone de Maria, moça tida como santa pela população do subterrâneo. A intenção é usar o clone para incitar a revolta. Ponto forte: considerado o primeiro filme de ficção científica da história do cinema, apesar de se mostrar mais como uma metáfora do presente. Cenários grandiosos, centenas de figurantes e inovadores – para a época – efeitos especiais.

Meu Tio


Meu Tio
Mon Oncle. FRA, 1956, 116 minutos, censura livre. Direção: Jacques Tati. Elenco: Jacques Tati, Jean Pierre Zola, Adrienne Servantie. Contexto histórico: Paris, década de 50, modernização. Sinopse: Homem solteiro e despreocupado leva constantemente o sobrinho para passeios lúdicos. Ele é pressionado pela irmã e pelo cunhado para casar e arrumar um emprego. Crônica amarga dos tempos modernos e da automação. Humor visual e melancólico. Ponto Forte: crônica amarga dos tempos modernos e da automação. Humor visual e melancólico. O filme é uma espécie de cartão-postal em movimento de Paris da década de 50, fazendo o contraponto entre uma Paris idílica – harmônica, fraterna, “da rua” – e uma Paris em processo de modernização – dos eletrodomésticos, dos automóveis, “das casas” – sintetizada em uma residência moderna e eletrônica (hoje, chamaríamos de “casa inteligente”). Apesar de poético, o filme é extremamente lento para os padrões atuais e com um roteiro muito disperso, só recomendável para quem se interessa por cinema-arte. Critica à sociedade moderna e à desumanização das relações sociais. Uma comparação entre o sofisticado comportamento da alta sociedade e o estilo mais desleixado e espontâneo das camadas populares.