CINEMA E HISTÓRIA

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fahrenheit 451




Fahrenheit 451
Fahrenheit 451. ING, 1966, 112 minutos. Direção: François Truffaut. Elenco: Oskar Werner, Julie Christie, Cyril Cusack. Contexto histórico: apesar de atemporal, revela preocupações típicas dos anos 50 (quando o livro foi escrito) e 60 (quando o filme foi feito), como as ditaduras militares, os autoritarismo e o poder dos meios de comunicação de massa. Sinopse: conta a história do bombeiro Montag, cuja função era ensinar os colegas novatos a encontrar livros escondidos e queimá-los. Por curiosidade, ele experimenta ler um livro e fica fascinado. Acaba transformando-se em um leitor e também em um subversivo, pois a leitura de livros é proibida pelo Estado. Logo que começa a ler, senti-se deslocado e depois passa a sentir-se um estranho no corpo de bombeiros. É denunciado pela própria esposa (as pessoas são incentivadas a delatar os familiares: “Companheiros, não deixem de observar seus amigos. Estar vigilante é o seu dever. É necessário que colaborem para a ordem”) e acaba perseguido pelos antigos colegas. Por fim, ele foge - apesar da televisão anunciar a sua morte - e acaba integrando uma espécie de “sociedade secreta”, chamada pessoas livro. O grupo decora livros clássicos para que as obras não se percam, resguardando, assim, o conhecimento humano. Ponto forte: O filme retrata um universo, onde a palavra impressa é proibida, somente são permitidos números e imagens. As pessoas são proibidas de ter e ler livros, considerados objetos subversivos. Elas escondem os livros em falsos televisores, em lustres, em móveis, em geladeiras. Quando as obras são achadas, elas são queimadas pelos bombeiros (fahrenheit 451, que se refere o título do filme, é a “temperatura ideal” para queimar livros), que não possuem mais a função de apagar incêndios, devido ao material das casas serem totalmente a prova de fogo, mais sim eliminar os livros. Ou seja, os bombeiros inverteram o seu papel, não apagam incêndios, mas os provocam. Eles usam uniforme preto e fazem saudações ao estilo nazi-fascista. As pessoas têm medo dos bombeiros, como se eles fossem uma polícia secreta.
O fim dos livros, resulta na perda das emoções pelas pessoas, que se tornam frias e distantes (“não estão vivendo, estão só matando o tempo”). As pessoas suprem o vazio existencial tomando comprimidos e assistindo televisão. O aparelho substitui a família, os telespectadores são chamados de “primos” e é criada uma falsa interatividade, visando fornecer um sentimento de participação. Participar de um programa significa entrar na “família”. Um novo aparelho de tv significa aumentar a família. O diretor do programa de televisão é chamado de “chefe da família”. Esse contexto gera atitudes infantilizadas, diálogos superficiais, dificuldade de articulação e de raciocínio. As pessoas evitam qualquer sentimento mais profundo. Mas a arbitrariedade retratada vai além da destruição dos livros: os homens são proibidos de ter cabelo comprido e existe a patrulha de limpeza para cortá-lo, as crianças só aprendem números e operações básicas de matemática no colégio; as ruas estão cheias de caixas para colocar denúncias anônimas. No fundo, o filme é uma grande homenagem aos livros e a leitura. Baseado no livro homônimo de Ray Bradbury.

Vale a pena destacar a inteligência do roteiro:
Chefe dos bombeiros:
- “Os livros não tem nada a dizer. São sobre pessoas que nunca existiram. Filosofia é pior que romance. É apenas o desejo de escrever, vaidade”.
- “Um livro sobre câncer de pulmão e todos os fumantes entraram em pânico, então pela paz de espírito de todos, nós o queimamos”
- “Quem lê se acha superior e todos devem ser iguais. O único meio de sermos felizes é tornar todo mundo igual. Então devemos queimar os livros, todos os livros”.
- “Deixamos esse monte de contradição queimar”
Montag:
- “Queimar livros é um trabalho como outro qualquer. Bom trabalho, e com muita variedade. Segunda, queimamos Micer. Terça, Tolstoi. Quarta, Walt Whitman. Sexta, Faulkner. Sábado e Domingo, Schopenhauer e Sartre”.

Diálogos entre Montag e os chefes dos bombeiros:
“Chefe dos bombeiros: - O que faz nos dias de folga?
Montag – Corto a grama.
Chefe - E se a lei proibir?
Montag - Vejo-a crescer, meu capitão”.

“Chefe dos bombeiros: - Os livros são apenas lixo.
Montag – Então, porque ainda há pessoas que os lêem sendo tão perigosos?
Chefe dos bombeiros: - Porque é proibido. Porque faz as pessoas ficarem infelizes. Livros perturbam as pessoas, tornam-as anti-sociais”.



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