CINEMA E HISTÓRIA

CINEMA E HISTÓRIA

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Adeus Minha Concubina




Adeus Minha Concubina
Ba Wang Bie Ji. CHI/HKO, 1993, 171 minutos. Direção: Kaige Chen. Elenco: Leslie Cheung, Fengyi Zhang, Li Cong. Contexto histórico: a China do século XX, antes e depois da Revolução Comunista de 1949, as tradições imperiais anteriores a China vermelha, a repressão do regime de Mao Tsé-Tung. Sinopse: o filme conta a história de dois atores da ópera de Pequim que se tornam famosos representando o rei e a cortesã da peça “Adeus Minha Concubina”, até que um deles se apaixona por uma prostituta, motivando um estranho comportamento no colega. Ponto forte: a história da China aparece permanentemente como pano de fundo: a herança imperial, a guerra civil, a revolução cultural comunista. O drama expõe a interferência dos governos autoritários na cultura e a perigosa confusão entre a ficção e a vida real. Mesmo sob censura, Kaige Chen conseguiu uma história cheia indicativos que denunciam a repressão do regime chinês. Um filme sensível, em que a narrativa é detalhadamente construída e centrada em um tema bastante delicado: a lealdade. Os figurinos e os cenários são impecáveis. Palma de Ouro em Cannes. Primeiro filme chinês a ganhar esse prêmio.

Adeus, Lênin



Adeus, Lênin

Good Bye, Lenin! ALE, 2002, 118 minutos. Direção: Wolfganger Becker. Elenco: Daniel Brühl, Katrin Sass, Florian Lukas. Contexto histórico: a Queda do Muro de Berlim no final da Guerra Fria, a passagem do regime comunista para o sistema capitalista na Alemanha Oriental e a reunificação alemã. Sinopse: um filho dedicado (Alexander) tenta evitar que a mãe, uma devota seguidora do comunismo, descubra que o sistema ruiu na Alemanha Oriental. A mãe não pode ter nenhuma emoção forte, pois acabou de sair do estado de coma. Alexander busca, então, recriar a antiga Alemanha Oriental, inclusive produzindo falsos noticiários televisivos. Ponto Forte: o filme mostra de maneira descontraída, mas ao mesmo tempo precisa, a acelerada desconstituição da antiga Alemanha Oriental comunista a partir da queda do muro de Berlim e, principalmente, a dificuldade de adaptação das pessoas ao novo sistema capitalista. Aparentemente a temática pode parecer complexa, mas a narrativa é leve e divertida, e o enredo criativo. A questão da queda do comunismo perpassa todo o filme, que usa como representação desse fato a remoção de uma estátua de Lênin e como símbolo da chegada do capitalismo um balão dirigível com propaganda da coca-cola. O enredo critica o imobilismo e a apatia do comunismo da antiga Alemanha Oriental, usando como personificação do fracasso desse sistema o motorista de táxi que revela ao protagonista ter sido um famoso cosmonauta no auge da corrida espacial. Esse havia sido o ídolo de infância de Alexander.
Imperdível.


Adeus, Meninos



Adeus, Meninos

Au Revoir les Enfants. FRA /ALE, 1987, 103 minutos. Direção: Louis Malle. Elenco: Gaspard Manesse, Raphael Fejto, Francine Racette. Contexto histórico: a França ocupada pelo nazismo durante a Segunda Guerra. O país está dividido entre os colaboracionistas e a resistência à ocupação alemã. Os colaboracionistas abertamente apoiavam o nazismo, beneficiando-se desta situação. Sinopse: um garoto (Julien) de 12 anos vê seu cotidiano transformado pela invasão dos nazistas à França e, principalmente, à sua escola (um colégio católico para crianças de posse). O menino havia feito amizade com três novos alunos, meninos que corriam perigo por serem judeus e estavam sendo protegidos pelos padres, que por isso, também passaram a correr perigo. A tragédia se dá quando Julien, sem querer, denuncia seus amigos, enviando-os para a morte nos campos de concentração. Ponto Forte: a humanização do contexto histórico, abordado por meio de um menino que vai compreendendo lentamente as atrocidades do nazismo. Filme lírico e autobiográfico que fala de culpa, amizade e delação. Vencedor do festival de Veneza.



Adivinhe Quem Vem Para Jantar


Adivinhe Quem Vem Para Jantar
Guess Who’s Comming to Dinner. EUA, 1967, 103 minutos. Direção: Stanley Kramer. Elenco: Spencer Tracy, Sidney Poitier, Katharine Hepburn. Contexto histórico: o racismo na sociedade norte-americana e o casamento inter-racial incomum nos Estados Unidos na década de 1960. Sinopse: casal tradicional desaprova o noivado da filha com um negro, mesmo ele sendo um médico conceituado e uma pessoa íntegra. Ponto forte: o filme toca em uma ferida profunda da sociedade norte-americana: o racismo que não é social, mas puramente racial, de cor. O país, acostumado a separações raciais, em que os índios foram colocados em reservas e os negros em bairros específicos, criou uma espécie de “racismo de massa”, que se revela, mais explicitamente, no caso do cantor Michael Jackson, que mesmo famoso e milionário, passou por um estranho processo de branqueamento, para “ser aceito” do “outro lado”, do “lado dos brancos”. Neste racismo que não é meramente social, como o brasileiro, não basta apenas ascender socialmente, mas é preciso ficar literalmente branco. O filme recebeu oito indicações para o Oscar, vencendo roteiro original e melhor atriz (Katharine Hepburn). Os diálogos precisos e inteligentes explicitam os preconceitos tanto dos brancos quanto dos negros.

Agente 86



Agente 86
Get Smart. EUA, 1965/1970, 24 minutos (cada episódio). Direção: Gary Nélson, Bruce Bilson, Don Adams Elenco: Don Adams, Bárbara Feldon, Edward Platt. Série televisiva que foi ao ar entre 1965 e 1970 nos Estados Unidos, totalizando cento e trinta e oito episódios. No Brasil, o seriado foi exibido até o início da década de 80. Sátira aos filmes de espionagem, típicos do período da Guerra Fria. A série brinca com as estratégias e os artefatos da época: códigos secretos, senhas, tintas invisíveis, compartimentos secretos. O objeto que ficou mais conhecido foi o sapato-fone do agente Maxwell Smart. Os episódios narram a eterna briga entre o bem e o mal, ou seja, entre o Controle (analogia da CIA, serviço secreto norte-americano) versus a K.A.O.S. (KGB, serviço secreto da União Soviética). O ponto alto da série é o quinto episódio da segunda temporada, Agente disfarçado, que foi ao ar originalmente em 15 de outubro de 1966, onde aparece esse premonitório diálogo:

Chefe: - Se conseguíssemos secar a fonte de dinheiro deles (K.A.O.S.), eles estariam fora do ramo.
Agente 86: - Espera aí, chefe! O que acontecerá com a gente?
Chefe: - Acho que a organização Controle ficaria sem trabalho e não haveria mais necessidade de nós...
Agente 86: - E eu? Eu só sei ser um agente. Quem sabe não podemos nos unir e ajudar a KAOS a continuar com os seus negócios.
Chefe: - Isso é ridículo. Seria como a polícia ajudando o crime organizado. O que você acha disso?
Agente 86: - Está funcionando nas grandes cidades...

Por que premonitório? Ao final da Guerra Fria, nos últimos anos da década de 80, muitos agentes da CIA, temendo perder o emprego, por não serem mais necessários, planejaram atentados para culpar os comunistas. Buscavam, desta forma, manter seu trabalho, como retrata o filme norte-americano Swordfish (A Senha), de 2001, dirigido por Dominic Sena com John Travolta e Hugh Jackman.

Houve três versões cinematográficas da série, duas com o elenco original: The Nude Bomb - A Bomba Desnuda (1980) e Agente 86... De novo? – Get Smart, Again? (1989). A versão mais recente é de 2008, chamada Agente 86: O Filme. No Brasil, um livro especialmente dedicado à série foi publicado em 2008, Agente 86 – O Velho Truque do Livro Cheio e Curiosidades.


Alexandre




Alexandre
Alexander. EUA, 2004, 176 minutos. Direção: Oliver Stone. Elenco: Colin Farrel, Val Kilmer, Angelina Jolie, Christopher Plummer, Anthony Hopkins, Jared Leto, Connor Paolo. Contexto histórico: a vida e as conquistas militares do imperador macedônico Alexandre, o Grande, no Século IV a.C. Alexandre foi o primeiro a conseguir juntar Ocidente e Oriente em um mesmo Império, criando uma cultura única, como forma de dominação dos diversos povos. A cultura helenística fundia elementos religiosos do oriente com elementos racionais do ocidente. A idéia era: um império, um rei, uma cultura. Alexandre percebeu que a melhor forma de dominar um povo, aquela mais contínua e discreta, é através da cultura, quando o dominador impõe a sua cultura sobre o dominado. Sinopse: retrata a vida de Alexandre, com destaque para as suas conquistas militares e relações pessoais, principalmente com a mãe Olímpia. Ponto Forte: a fidelidade histórica, a vida e a trajetória militar do imperador macedônio. A coragem de não ocultar Hefestião, companheiro de Alexandre, e a reconstituição das batalhas e das estratégias militares. Na verdade, o filme se detém nas conquistas militares e faz uma exaltação do expansionismo territorial promovido por Alexandre (não podemos esquecer que o diretor é norte-americano!). Stone consegue colocar por três vezes em cena – sempre de forma discreta e bem inserida – o mapa do mundo antigo, tornando a obra bastante didática. Apesar da acusação de criar uma história excessivamente edipiana, por ressaltar em demasia a relação entre Alexandre e sua mãe – pois chega ao exagero de mostrar as conquistas militares como a forma que Alexandre encontrou para ficar longe da dominadora Olímpia –, o filme constrói um personagem fascinante e muito próximo do real. Imperdível.

Alexandre, o Grande


Alexandre, o Grande
Alexander the Great. EUA/ESP, 1956, 135 min. Direção: Robert Rossen. Elenco: Richard Burton, Fredric March, Danielle Darrieux, Claire Bloom. Sinopse: o filme narra desde a adolescência de Alexandre até a sua vitória na Pérsia (331 a.C.). Ponto forte: épico típico do período, com milhares de figurantes e excelente elenco. Mostra a vida tumultuada de Alexandre, a relação com o professor Aristóteles e com os pais. Aparecem também algumas inovações militares do período, como o uso de lanças mais compridas. O filme se detém, excessivamente, no personagem Alexandre, como o único gerador da expansão macedônica e, além disso, os diálogos são exageradamente eloqüentes (“É muito bom viver com coragem”).


A letra da canção Alexandre, de Caetano Veloso é precisa nas informações e, ainda assim, extremamente poética, com ricas figuras de linguagem. A gravação original está no CD intitulado Livro, de 1997. Outra opção é a gravação de Adriana Calcanhoto, no CD Partimpim II, de 2009, onde a canção foi “limpada”, a cantora simplificou ao máximo a melodia, dando destaque especial à letra:

“Ele nasceu no mês do leão,
sua mãe uma bacante
E o rei seu pai,
um conquistador tão valente,
que o príncipe adolescente pensou que já nada restaria
pra, se ele chegasse a rei, conquistar por si só.
Mas muito cedo ele se revelou um menino extraordinário:
O corpo de bronze,
os olhos cor de chuva
e os cabelos cor de sol.

Alexandre... de Olímpia e Felipe
o menino nasceu, mas ele aprendeu
que seu pai foi um raio
que veio do céu

Na grande batalha de Queronéia,
Alexandre destruía a esquadra Sagrada de Tebas,
chamada Invencível.
Aos dezesseis anos,
só dezesseis anos, assim já exibia
Toda a amplidão da luz
do seu gênio militar.[...]
Feito rei aos vinte anos
Transformou a Macedônia,
Que era um reino periférico, dito bárbaro,
em esteio do helenismo e dos gregos, seu futuro,seu sol”.

Alexandre Nevsky


Alexandre Nevsky
Aleksandr Nevsky. URSS, 1938, 112 minutos. Direção: Sergei Eisenstein e Dmitri Vasilyev. Elenco: Nikolai Cherkasov, Nikolai Okhlopkov, Andrei Abrikosov. Contexto histórico: no início do século XIII, a Rússia é invadida e saqueada por invasores germânicos (teutônios e tártaros). Sinopse: o príncipe Aleksandr Nevsky, mesmo que relutante e instável, lidera a resistência russa à invasão territorial. Ponto forte: uma das poucas obras cinematográficas a retratar a Rússia medieval. Stalin pretendia utilizar o filme como alerta para o perigo de uma invasão alemã. No entanto, quando ele foi lançado já não interessava mais a Stálin, pois este estava negociando com Hitler o pacto de não-agressão, que seria assinado em 1939. Porém, após o não cumprimento do tratado por Hitler e da invasão da Rússia pela Alemanha, em 1941, Stálin obrigou a exibição do filme em todos os cinemas da URSS para inflamar a resistência soviética. A narrativa é lenta e os diálogos ingênuos, mas a beleza das cenas compensa esses defeitos, principalmente a cena da batalha entre russos e teutônicos sobre um lago congelado.

Amém



Amém
Amem. FRA/ALE/ROM/EUA, 2002, 130 minutos. Direção: Costa-Gavras. Elenco: Ulrich Tukur, Mathieu Kassovitz. Contexto histórico: o nazismo e suas práticas desumanas, principalmente o extermínio dos judeus nos campos de concentração. Sinopse: Um oficial da SS, polícia nazista, desenvolve um produto que torna mais eficiente à limpeza dos tanques de água, mas descobre que sua criação está sendo utilizada para matar judeus nos campos de concentração. Perturbado com a revelação, ele passa a lutar para denunciar o extermínio, auxiliado por um jovem padre jesuíta. Eles não conseguem nem o apoio do papa e nem da alta cúpula da igreja. A desesperada luta dos dois protagonistas e o final trágico de ambos transforma-os em heróis de uma verdadeira tragédia clássica. Ponto forte: didático como todo filme de Costa-Gavras, a película busca mostrar a omissão da Igreja católica – e também da protestante – quanto às práticas nazistas e os campos de concentração, principalmente em relação ao extermínio dos judeus. “A Igreja é feita de paciência”, fala um cardeal justificando a omissão da instituição.

O Americano Tranqüilo



O Americano Tranqüilo
The Quiet American. EUA/ALE, 2002, 100 minutos. Direção: Philip Noyce. Elenco: Michael Caine, Brendan Fraser, Do Thi Hai Yen. Contexto histórico: durante os anos 50, em Saigon, no Vietnã, sob domínio francês, diversos grupos lutam pela libertação do país. O filme mostra interesses internacionais, principalmente dos norte-americanos na região. Sinopse: o drama conta a história de um experiente correspondente de guerra que se envolve com a cidade de Saigon e com uma bela jovem vietnamita, que o abandona por ser casado, optando por outro americano, um agente da CIA recém chegado no país. Ponto forte: um filme de mistério, que demonstra o intervencionismo norte-americano na região e a ambigüidade moral das relações humanas. Adaptação do livro homônimo de Graham Greene. O escritor viveu no Vietnã entre 1952 e 1957, como correspondente estrangeiro do jornal The Times. Destaque para a brilhante atuação de Caine e para as belas imagens da cidade de Saigon. Há uma versão mais antiga do filme, com o mesmo título, de 1957.


Amistad


Amistad
Amistad. EUA, 1997, 154 minutos. Direção: Steven Spielberg. Elenco: Morgan Freeman, Anthony Hopkins, Djimon Hounson, Matthew McConaughey. Contexto histórico: a disputa ideológica entre o norte capitalista e o sul agrário escravista em meados do século XIX, alguns anos antes da Guerra Civil (1861-1865). Os estados do norte defendiam o final da escravidão por questões econômicas e não humanitárias. O norte era capitalista, industrializado e voltado para o mercado interno, necessitava de consumidores. Os escravos, por não receberem salários, não consumiam “nem uma agulha” durante toda a sua vida. A escravidão era um entrave para a implantação do capitalismo no país, sistema baseado na produção e na venda de mercadorias. Sinopse: o enredo acontece a partir de um episódico específico, um navio negreiro espanhol, onde havia ocorrido uma rebelião de escravos, é capturado na costa americana com 53 negros ainda vivos. A questão central do filme é qual deveria ser o destino desses escravos? A história, que se passa duas décadas antes da Guerra de Secessão, retrata o longo processo entre o norte abolicionista e o sul escravista para resolver o destino desses negros. A questão gira em torno do julgamento: os negros lutaram pela sua liberdade ou agiram como assassinos. Segue uma longa batalha judicial, enquanto os negros buscam apenas voltar para a África. Ponto Forte: o filme aborda duas questões: liberdade e justiça (no sentido de sistema judicial), entrelaçadas. Baseado em fatos verídicos. É interessante salientar que as imagens de Amistad evocam o poema Navio Negreiro, de Castro Alves.

“Dentre as muitas cenas do filme Amistad, destaca-se a que recria o processo de sociabilidade entre os integrantes das diferentes tribos africanas. Cada um possui um dialeto específico da cultura tribal, fator que impossibilita a comunicação. Na cena em que mostra esta realidade não existe tradução, transmitindo ao espectador a sensação vivida pelos personagens. Uma grande sacada do diretor.” Historiadora Clarisse Ismério.




Amor e Sedução


Amor e Sedução
Ju Dou. CHI, 1989, 95 minutos. Direção: Zhang Yimou. Elenco: Gong Li, Li Wei, Zhang Li. Contexto histórico: as perversas tradições culturais em relação as mulheres no interior da China no início do século XX. Sinopse: jovem comprada por comerciante idoso, dono de uma tinturaria, para ser a sua esposa, é espancada pelo ele por não conseguir engravidar. Porém, ela não engravida porque o seu esposo não consegue manter relações sexuais. Ele a espanca para que ninguém no lugarejo descubra a verdade: sua impotência. Temendo a morte, ela pede ao sobrinho do marido para engravidá-la. O sobrinho reluta entre a fidelidade ao tio ou salvar a vida da jovem, por quem está apaixonado. Cedendo a sua paixão, ele engravida-a. No entanto, a vida da protagonista ainda corre perigo, pois ela morrerá como castigo, caso o bebê não seja do sexo masculino. O final é surpreendente e trágico. Ponto forte: denuncia o sofrimento imposto às mulheres pelas tradições chinesas. Excelente enredo. Um drama completamente diferente dos filmes ocidentais. Imperdível.

Amor sem Escalas


Amor sem Escalas
Up in the Air. EUA, 2009, 109 minutos. Direção: Jason Reitman. Elenco: George Clooney, Vera Farmiga. Contexto histórico: o atual contexto de desemprego, globalização e desumanização do mercado de trabalho. Sinopse: o protagonista tem como função comunicar aos funcionários que eles estão demitidos. A desumanização ocorre quando a empresa decide comunicar a demissão através da tela de um computador. O título original do filme vem do fato do protagonista praticamente “morar” dentro de um avião, devido as permanentes viagens de trabalho. Ponto Forte: mostra de forma didática, cinematográfica e ficcional, o lado mais desumano das atuais relações de trabalho. Paradoxalmente, mostra também o lado glamuroso do mundo corporativo: aeroportos, cartões de crédito, hotéis de luxo, cartões de milhagem e rápidas aventuras sexuais.

Ana e os Lobos




Ana e os Lobos
Ana y los Lobos. ESP, 1972, 102 minutos. Direção: Carlos Saura. Elenco: Geraldine Chaplin, Fernando Gómez, José Maria Prada, José Vivo. Contexto histórico: a Espanha dominada pelo fascismo. Sinopse: uma governanta, desejada por três irmãos (um místico, um militarista e um obsceno), submete-se de forma passiva aos caprichos deles, mesmo odiando fazê-lo. Ponto forte: brilhante metáfora da violência do franquismo sobre a Espanha. A família desajustada é uma alegoria da Espanha desajustada sob o domínio de Franco. Além disso, os personagens também representam grupos sociais e padrões de comportamento. Saura voltaria ao tema em 1979, com Mamãe Faz Cem Anos (Mamá Cumple Cien Años), uma espécie de continuação “descontinuada” de Ana e os Lobos, que retrata a transição para a normalidade democrática na Espanha com o rei Juan Carlos.

Antes que o Mundo Acabe




Antes que o Mundo Acabe
BRA, 2009, 97 minutos. Direção: Ana Luíza Azevedo. Elenco: Caroline Guedes, Murilo Grossi, Janaína Kremer, Pedro Tergolina, Bianca Menti. Contexto histórico: os processos ligados à informatização e a globalização coexistindo com elementos do passado que permanecem no cotidiano atual. Sinopse: um adolescente que mora em uma pequena cidade do interior gaúcho tenta lidar com todos os conflitos típicos dessa fase: o fim do namoro, as relações de amizade, a dificuldade de firmar uma personalidade estável. No caso do protagonista, a crise aumenta com a “descoberta” do pai biológico. Ponto Forte: a cidade representada no filme mistura elementos da tradição (o toque do sino da Igreja, a bicicleta como meio de transporte, a imagem da santinha que faz um rodízio pelas casas dos moradores, a criação de passarinhos) com elementos contemporâneos (a internet, o notebook, a banda de rock, a câmera digital). O pai do protagonista, que largou a família para ser correspondente de guerra e atua em uma organização que se chama Antes que o Mundo Acabe, enfatiza a importância de registrar as paisagens, os costumes, “os mundos” antes que eles acabem, antes que virem uma coisa só, através do esmagador processo de globalização em que tudo se torna semelhante ou igual.

Apocalypse Now (Redux)





Apocalypse Now (Redux)
Apocalypse Now (Redux). EUA, 1979, 202 minutos. Direção: Francis Ford Coppola. Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Durvall, Harrison Ford, Dennis Hopper. Contexto histórico: Guerra do Vietnã (1963-1975). Sinopse: um militar do exército norte-americano tem a missão de matar um colega desertor que teria enlouquecido, formado um exército paralelo com nativos e agindo “por conta própria”. Ponto forte: o número de filmes sobre a invasão norte-americana no Vietnã é tão expressivo que Guerra do Vietnã acabou virando um sub-gênero do gênero Filmes de Guerra. Desde os mais patrióticos, como Os Boinas-Verdes, com John Wayne, até os mais críticos, como o documentário Corações e Mentes. Porém, o mais clássico talvez seja Apocalipce Now, um épico sobre o caos, o horror, a inutilidade e a insanidade da Guerra do Vietnã. Uma guerra em que não se luta por honra ou ideologia, não se luta por nada (“Vocês americanos estão lutando pelo maior nada da história”). O sadismo e a arrogância dos soldados norte-americanos, perdidos e amedrontados, matando mulheres e crianças, sem ao menos saberem o objetivo de suas ações (“Acusar um homem de assassino neste lugar era como dar multas de velocidade na formula Indy”). Soldados ainda adolescentes “brincando” de guerra, drogados e sem comando em um Vietnã-hospício (“Ensinamos os soldados a matar, mas não permitimos que escrevam palavrões”). A loucura da guerra e o poder que a Guerra tem de enlouquecer quem dela participa (“Muitas vezes um militar no meio dos nativos se acha um Deus e confunde as coisas...”). Mais do que a violência retratada, o filme é assustador pela insanidade dos combatentes, pela falta de objetivos ou sentido de quem luta, pela falta de sentido da guerra em si. A guerra torna-se apenas para matar o inimigo (“os vietcongs só têm duas formas de voltar para a casa: a morte ou a vitória”). Destaca-se ainda o magistral uso da trilha sonora e a excelente representação da ocupação de um vilarejo por tropas americanas, comandadas por um insano tenente-coronel-surfista. Um road-movie pelo Vietnã dilacerado, transformado em um inferno pelos EUA. O filme consegue ser surrealista e realista ao mesmo tempo. Baseado no livro O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Ponto Fraco: o roteiro previsível e a atuação do protagonista Martin Sheen, que fica o filme inteiro com a mesma expressão vazia no rosto.

Genial e antológica criação de Francis Ford Coppola, Apocalipse Now, é considerado o melhor filme já realizado sobre a insanidade da Guerra do Vietnã.
Ao traçar um paralelo entre a loucura de um coronel do exército norte-americano, o coronel Kurtz, vivido por Marlon Brando, e a realidade do conflito, a obra-prima desfila uma sequência de situações inimagináveis, mas absolutamente verdadeiras, no trajeto seguido pelo capitão Wilard (Martin Sheen) pelos cenários do conflito rumo as fronteiras do Vietnã, onde tem a missão secreta de assassinar Kurtz. Com uma fotografia de tirar o fôlego, uma trilha sonora impecável e um conjunto de personagens poucas vezes vistos no cinema, o filme abriu mão de clichês ou sentimentalismos fáceis e tornou-se uma referência para aqueles que desejam aprofundar a compreensão sobre o mais longo dos conflitos da Guerra Fria. Historiador Marcelo Paiva.

Arca Russa






Arca Russa
Russkij Kovcheg. RUS, 2001, 97 minutos. Direção: Aleksandr Sokúrov. Elenco: Serguei Dreiden, Maria Kuznetsova, Leonid Mozgovói. Contexto histórico: a Rússia aristocrática pré-revolução comunista. Sinopse: inúmeros personagens da aristocracia se movimentam em um grande número de salas do Palácio de Ermitage, enquanto muitas alusões – de difícil compreensão para um espectador desavisado – à história da Rússia e expressivas metáforas são apresentadas na tela. Ponto forte: o filme se passa no interior do Palácio do Ermitage, residência de Catarina II, a Grande, construído a partir de 1750, na cidade de São Peterburgo, e atualmente transformado em museu (foto). Aliás, o personagem principal do filme é o próprio Palácio. O diretor usa basicamente dois recursos técnicos: o uso da câmera subjetiva, quando a lente torna-se o olho do espectador, e um único plano seqüência do início ao fim, sem nenhum tipo de corte ou montagem, ou seja, o filme tem apenas uma cena de 97 minutos. A única ruptura é a definitiva, quando a narrativa termina. Provavelmente, esse recurso é uma metáfora da grande ruptura que representou a Revolução Bolchevique na história da Rússia, finalizando a era dos czares e estabelecendo o comunismo. A película termina com um grande baile, enquanto a câmera dança junto com os aristocratas, lembrando muito o filme O Leopardo, de Visconti.

Arca Russa

Arca Russa
Russkij Kovcheg. RUS, 2001, 97 minutos. Direção: Aleksandr Sokúrov. Elenco: Serguei Dreiden, Maria Kuznetsova, Leonid Mozgovói. Contexto histórico: a Rússia aristocrática pré-revolução comunista. Sinopse: inúmeros personagens da aristocracia se movimentam em um grande número de salas do Palácio de Ermitage, enquanto muitas alusões – de difícil compreensão para um espectador desavisado – à história da Rússia e expressivas metáforas são apresentadas na tela. Ponto forte: o filme se passa no interior do Palácio do Ermitage, residência de Catarina II, a Grande, construído a partir de 1750, na cidade de São Peterburgo, e atualmente transformado em museu (foto). Aliás, o personagem principal do filme é o próprio Palácio. O diretor usa basicamente dois recursos técnicos: o uso da câmera subjetiva, quando a lente torna-se o olho do espectador, e um único plano seqüência do início ao fim, sem nenhum tipo de corte ou montagem, ou seja, o filme tem apenas uma cena de 97 minutos. A única ruptura é a definitiva, quando a narrativa termina. Provavelmente, esse recurso é uma metáfora da grande ruptura que representou a Revolução Bolchevique na história da Rússia, finalizando a era dos czares e estabelecendo o comunismo. A película termina com um grande baile, enquanto a câmera dança junto com os aristocratas, lembrando muito o filme O Leopardo, de Visconti.

Arquitetura da Destruição




Arquitetura da Destruição
Unterganges Arkitektur. SUE, 1991, 121 minutos. Direção: Peter Cohen. Documentário sobre as concepções artísticas e arquitetônicas de Hitler que busca demonstrar que a arte e a estética eram parte importante do programa ideológico nazista. Ou seja, o nazismo buscava se impor não apenas pelo seu aparato repressivo, mas também pela sua produção artística-cultural. O nazismo condenou a Arte Moderna (abstrata, de vanguarda) classificando-a como “arte degenerada” e “arte de judeus”, assim como estabeleceu uma arte “pura, limpa e alemã”, baseada na arte clássica e monumental. O filme parte do princípio de que Hitler foi um artista frustrado, que se incumbiu da missão de “purificar” não só a raça, mas também as artes, criar uma arte nova para um novo homem, “refazer a estética do mundo”. Narrativa clara e direta. O filme apresenta-se como uma espécie de história da estética nazista.