CINEMA E HISTÓRIA

CINEMA E HISTÓRIA

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mississipi em Chamas



Mississipi em Chamas
Mississippi Burning. EUA, 1988, 128 minutos. Direção: Alan Parker. Elenco: Gene Hackman, Willem Dafoe e Frances McDormand. Contexto histórico: atuação da Ku Klux Klan nos anos 60, o racismo no Sul dos Estados Unidos. Retrata o período que ficou conhecido como verão da liberdade, quando centenas de jovens engajados chegavam ao sul para cadastrar os negros como eleitores. Sinopse: o filme apresenta três ativistas dos direitos civis que são assassinados no Mississipi, o estado mais racista dos EUA, no ano de 1964. Dois agentes do FBI (Polícia Federal) chegam ao local para investigar o caso e toda a cidade parece conspirar contra a investigação. Uma onda de atos violentos contra os negros é promovida. Ponto forte: Mississipi em Chamas é o filme mais popular a mostrar os horrores da Ku Klux Klan, somente isso já seria um mérito. Mas o filme vai além, se reveste de um caráter de suspense que prende o telespectador até o último minuto, graças à precisão do seu roteiro e a atuação brilhante do elenco. A crítica que se faz, de que “são brancos” (os agentes) resolvendo as questões de negros e que os negros “sempre aparecem amedrontados” é injusta, há cenas de negros que enfrentam todo o poder público, controlado pela elite branca racista, inclusive nos tribunais, e aparece uma passeata organizada pelos negros. Mas o maior mérito do filme é a caracterização dos membros da Ku Klux Klan e a vinculação deles com o poder público.

Curiosidade: Um ano antes dos assassinatos, em 1963, noventa mil negros do Mississipi foram às urnas mostrando o desejo de mudança, apesar dos incêndios, da ameaças e das torturas que sofreram. Curiosidade II: Em 2005, 41 anos depois do ocorrido, um ex-integrante da KKK, Edgar Killen, aos 80 anos, foi declarado culpado pela justiça pelo assassinato destes três jovens. Curiosidade III: Ironicamente, Parker recebeu o prêmio D.W. Griffith do National Board pela direção. Griffith é o diretor do filme racista O Nascimento de uma Nação, de 1915.

O Nascimento de uma nação
The Birth of a Nation. EUA, 1915, 190 minutos. Direção: David Wark Griffith. Épico racista que defende a Ku Klux Klan como a solução para manter a unidade política dos Estados Unidos, ameaçada pela Guerra Civil. Os escravos e os abolicionistas são apresentados como os culpados pela destruição do país, enquanto os membros da KKK aparecem como heróis, como cruzados modernos. Griffith era sulista. O filme foi a primeira grande produção do cinema norte-americano. Os negros são representados por atores brancos com o rosto pintado.

A Ku Klux Klan é uma sociedade secreta do sul dos Estados Unidos que defende a supremacia branca protestante. A organização foi fundada por ex-combates do exército sulista, derrotados na Guerra Civil, no Estado do Tennessee, em 24 de dezembro de 1865. O sul estava destruído e o desemprego era a regra. O objetivo era impedir a integração dos negros recém libertos à sociedade, impedi-los de ter propriedades, de votar e de estudar. O nome é uma junção da palavra Kuklos (circulo em grego) e a palavra Clan (Clã). O dever sagrado dos seus membros é manter superioridade da raça branca: “O criador quis nos dar, sobre as raças inferiores, um poder que nenhuma lei humana pode nos retirar”. A organização promoveu diversos atos bárbaros contra negros: chibatadas, enforcamentos, destruição de propriedades. Para impedir a instrução dos negros, os professores que ensinavam negros eram intimidados. No Mississipi, escolas foram incendiadas e professores assassinados. Em 1871, a organização chegou a assassinar um senador. Graças a esse ato a organização foi colocada na ilegalidade, considerada uma sociedade terrorista e combatida pela ordem pública. Porém, em 1915 ela ressurge com mais força, impulsionada pelo lançamento do filme racista O Nascimento de uma Nação. O pastor metodista Willian Simmons, do Alabama, após assistir o filme, decide reorganizar a KKK. Esse foi o auge da organização, chegando a atingir quatro milhões e meio de membros em 1920. Quatro anos depois ela elegeu 11 governadores e vários senadores. Em 1925 conseguiu a aprovação de uma lei que restringia a entrada de imigrantes, além de ter organizado um gigantesco desfile na capital do país e ter aumentado a sua crueldade nas ações contra os negros. Nos anos 40 iniciou seu declínio, quando deixou de ser uma organização popular, devido à mudança de mentalidade e a participação dos negros no exército americano durante a Segunda Guerra. Durante a Guerra Fria, os klanistas tentam “reciclar” sua ideologia, incluindo os comunistas entre os perseguidos. Atualmente estão unidos aos neonazistas devido à semelhança ideológica e sua última aparição pública foi em um protesto contra a eleição de Barack Obama em 2009.

Mundo Novo



Mundo Novo
Nuovomondo. ITA/FRA, 2006, 120 minutos. Direção: Emanuele Crialese. Elenco: Charlotte Gainsbourg, Vincenzo Amato, Francesco Casisa. Contexto histórico: retrata a grande imigração italiana para a América no século XIX. A imigração dos europeus era vista como uma válvula de escape para diminuir a tensão social das grandes cidades européias. A miséria, o desemprego e a marginalização transformavam as cidades européias em um barril de pólvora. Os governantes europeus passaram a incentivar a ida da sua população mais pobre para outros países, principalmente para a América. Entre 1830 e 1930, cerca de 11 milhões de europeus vieram para o continente americano. Desses, 38% eram italianos. Sinopse: Família muito pobre da Sicília que sonha em migrar para a América; vende o quase nada que possuíam e cruzam o oceano. Desembarcam em Nova York, onde precisam cumprir um período de quarentena antes de entrar no país. Analfabetos e sonhadores, passam por todo o tipo de dificuldades no Novo Mundo.

Na Natureza Selvagem



Na Natureza Selvagem




Into the Wild. EUA, 2007, Direção: Sean Penn. Elenco: Emile Hirsch, William Hurt, Hal Holbrook. Contexto histórico: atual. Sinopse: rapaz de classe média alta abandona todas as benesses da sua condição social e opta por torna-se um andarilho. Pretendia ficar isolado no Alasca, vivendo apenas dos recursos naturais, como um “caçador-coletor” pré-histórico. Acabou morrendo por estar despreparado para a missão. Ponto forte: discute a questão civilizatória, a oposição entre natureza e civilização, o domínio da natureza pelo homem (sobrevivência) e o domínio do homem pela natureza (morte). A obra apresenta o ideal maravilhoso, e ao mesmo tempo, perigoso de aventurar-se em meio à natureza, e a necessidade de solidão. Em última análise apresenta, concomitantemente, a dificuldade da vida em sociedade e a dificuldade da vida fora da sociedade. Baseado em uma história real

Nascido a 4 de Julho


Nascido a 4 de Julho
Born on the Fourth of July. EUA, 1989, 145 minutos. Direção: Oliver Stone. Elenco: Tom Cruise , Bryan Larkin , Raymond Barry. Contexto histórico: Guerra do Vietnã, cultura bélica norte-americana. Sinopse: soldado veterano da Guerra do Vietnã volta em uma cadeira de rodas e torna-se um famoso pacifista. O filme mostra a tomada de consciência do protagonista, que antes de ser combatente era a favor da guerra. Ponto Forte: a obra descreve a máquina de guerra, a questão das minorias na sociedade americana e as dores do retorno da guerra. O título se refere à data da independência americana. Baseado em uma história verídica. Quanto à estética, o filme é rodado em tons de vermelho, azul e branco, as cores da bandeira norte-americana.


Netto Perde sua Alma



Netto Perde sua Alma
BRA, 2001, 102 minutos. Direção: Beto Souza e Tabajara Ruas. Elenco: Werner, Sirmar Antunes, Nélson Dinis, Oscar Smich. Contexto histórico: a Revolução Farroupilha: confronto entre os estancieiros gaúchos e o governo central do Império. O Rio Grande do Sul não produzia para o mercado externo, como as demais províncias, mas para o mercado interno. O seu principal produto era o charque e a dificuldade em concorrer com os vizinhos Argentina e Uruguai, foi o principal motivo da rebelião. Os produtores gaúchos exigiam a cobrança de impostos mais altos para o charque platino, mas o governo central, pressionado pelos compradores de charque, não atendeu a reivindicação. A Guerra dos Farrapos teve 56 conflitos bélicos e cerca de 3 mil mortos. O movimento iniciou em 20 de setembro de 1835, com a tomada de Porto Alegre, e terminou em 28 de fevereiro de 1845, com um tratado de paz, acertado entre Duque de Caxias e Davi Canabarro. Foi a maior rebelião do Período Regencial (1931-1840) e a maior guerra civil da história brasileira. Sinopse: o filme retrata a Batalha do Seival e a participação dos negros na Revolução Farroupilha; a participação do General Antônio Netto na Guerra dos Farrapos e na Guerra do Paraguai. Ponto forte: a participação dos negros e os debates internos, entre os líderes farroupilhas, para decidir os rumos do movimento, estão entre os pontos altos do filme. O filme mostra de forma idealizada a Revolução Farroupilha, porém com passagens muito ilustrativas. Destaque também para a construção do personagem Netto e para a atuação de Werner Schünemann. Porém, o filme é de gaúcho e para gaúcho assistir, pois os gaúchos aparecem como idealista e libertários e os demais brasileiros como defensores dos interesses do Império. Netto é o mais idealizado, chamado de “libertador” pelos negros. Em uma cena, ele aparece ferido, barbudo, coberto por um cobertor branco, lembrando Cristo. O filme, de certa forma, deu origem a minisérie A Casa das Sete Mulheres, inclusive com a utilização de alguns dos mesmos atores. Destaque também para a leitura da carta de Garibaldi, direcionada aos farroupilhas: “nunca vi em nenhuma parte homens mais valentes, nem cavalheiros mais brilhantes...” e para as belas paisagens do pampa gaúcho e uruguaio. A obra critica a guerra do Paraguai “nós [farroupilhas] lutávamos por idéias, essa guerra atrai mercenários vindos de toda a parte”.

Atenção para a precisão dos diálogos quase literários do filme:
Entre Netto e Maria, futura esposa do General:
Maria – Amo cavalos, são nobres, são tão bonitos, fortes, garbosos, livres, tranqüilos...
Netto – Está é uma visão romântica, quem conhece cavalos sabe que são animais traiçoeiros e egoístas.
Maria – Está com o humor terrível hoje general...
Netto – Eu conheço cavalos, cavalos são o meu negócio.

Milonga – Eu quero entrar para o corpo de lanceiros
Netto – Tu não é bem tratado na estância milonga?
Milonga – Sou sim senhor...
Netto – Então?
Milonga – Lá eu sou escravo...
Gavião – Tu é muito moço para ser lanceiro, milonga.
Milonga – Não para ser escravo.

No Vale das Sombras



No Vale das Sombras
In the Valley of Elah. EUA, 2007. Direção: Paul Haggis. Elenco: Tommy Lee Jones, Charlize Theron, Susan Sarandon. Contexto histórico: atual, Guerra do Iraque. Sinopse: militar aposentado investiga o desaparecimento do filho, ex-combatente no Iraque. Nesse processo, o protagonista desilude-se com os ideais patrióticos e nacionalistas típicos da sociedade norte-americana. Ponto forte: A Guerra do Iraque é a grande vilã do filme que condena o militarismo do governo Bush de forma devastadora, através da busca angustiada do pai pelo filho. Parece dizer: essa guerra é imoral, por isso o comportamento dos soldados americanos é igualmente imoral.

O Nome da Rosa



O Nome da Rosa


Der Name Der Rose. ALE, 1986, 130 minutos. Direção: Jean-Jacques Annaud. Elenco: Sean Connery, Christian Slater, Helmut Qualtinger. Contexto histórico: a Alta Idade Média é um período marcado pela fome na Europa, causada pelo mau aproveitamento da terra, a falta de comunicação entre os feudos e a ausência de comércio. A palavra escrita praticamente desapareceu, se concentrando nos mosteiros. Assim, as técnicas agrícolas não se desenvolviam, devido à ausência da transmissão do conhecimento. A sociedade se apresenta dividida em estamentos estáticos (clero, nobreza, campesinato), com suas respectivas funções (oração, guerra, trabalho). Ocorreu ainda o nascimento da Inquisição na Península Ibérica. Por outro lado, a cultura ocidental foi mantida mesmo em uma época marcada pela violência e pelo medo, a escravidão foi substituída pela servidão, formas gestuais de comunicação foram desenvolvidas e as idéias de Estado e comércio não se apagaram totalmente, sendo reativadas na Baixa Idade Média. Sinopse: um monge investiga uma série de crimes que vinham ocorrendo em um mosteiro da Ordem dos Beneditinos, no sul da Itália, em 1372. Ponto Forte: Impecável reconstituição histórica. Baseado no livro do historiador Umberto Eco.

Nós que aqui estamos por vós esperamos



Nós que aqui estamos por vós esperamos
BRA, 1999, 73 minutos. Direção: Marcelo Masagão. Documentário. O filme não possui narração, apenas um mosaico de imagens – extraídas principalmente de documentários – e fotografias do século XX, que misturam pessoas anônimas com personagens históricos. Destaque para as imagens de Santos Dumont, contornando a Torre Eiffel. O título é uma epígrafe comumente encontrada nos cemitérios brasileiros.