CINEMA E HISTÓRIA

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terça-feira, 26 de abril de 2011

O Leopardo



O Leopardo
Il Gattopardo. ITA, 1963, 185 minutos. Direção: Luchino Visconti. Elenco: Burt Lancaster, Alain Delon, Cláudia Cadinale. Contexto histórico: a incorporação da Sicília à unificação italiana no final do século XIX. A queda das aristocracias locais em detrimento de um projeto burguês de país, centralizado e capitalista, liderado pelo reino de Piemonte-Sardenha. A resistência da aristocracia às mudanças promovida por Garibaldi na anexação da Sicília. Sinopse: acompanha a decadência do aristocrata com os novos rumos políticos na Itália. Essa decadência é personificada em Salina, que arranja um casamento entre seu sobrinho e a filha de um rico burguês, a união representa a tradição necessitando do poder econômico da nova classe em ascensão social. O filme enfatiza a aliança aristocracia-Igreja e uma nova tentativa de aliança entre a burguesia e a antiga aristocracia na unificação do país. Ponto forte: mostra com clareza didática a ascensão da burguesia em detrimento da tradicional aristocracia empobrecida. Salina chega a afirmar: “Sou um componente da velha classe fatalmente comprometido com o regime passado e ligado a este por vínculos de decadência mais que por afeto. A minha geração é infeliz, dividida entre dois mundos e pouco a vontade em qualquer um deles”. No entanto, o aristocrata Salina possui um ampla visão política: “As coisas precisam mudar para continuarem as mesmas”, “Sabe o que está acontecendo no nosso país? Nada, só uma imperceptível substituição de classes”. Baseado no romance homônimo de Tomaso de Lampedusa. Há uma identificação de Visconti com o romance, pois o diretor era filho de um conde, apesar de comunista declarado. O baile final funciona como uma alegoria da decadência da aristocracia. Atenção para a preciosa e detalhada pesquisa do vestuário do período e da constituição dos cenários. Obra contemplativa e intelectual, de enorme força estética, um pouco lenta para os padrões atuais. Palma de ouro em Cannes.

O tom cínico e cético do personagem Salina, que foi magnificamente interpretado por Burt Lancart, aparece na descrição de sua vida íntima: “O amor é fogo ardente durante um ano, cinzas durante trinta [...] a nudez do corpo é muito mais inocente que a nudez da alma”. Salinas teve sete filhos com sua esposa, uma católica fervorosa, mas nunca viu “o seu umbigo”.

O filme apresenta uma definição preciosa de aristocracia: “Eles não são fáceis de entender. Vivem em um universo particular, criado não por Deus, mas por eles mesmos. Eles se afligem ou se alegram por coisas que para nós não tem nenhuma importância”.
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