CINEMA E HISTÓRIA

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba



Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba
Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb. ING, 1964, 90 minutos. Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Peter Seller, George Scott, Sterling Hayden. Contexto histórico: paródia da Guerra Fria feita no “calor da hora”, logo após a Crise dos Mísseis, episódio que quase iniciou um conflito direto entre EUA e URSS que destruiria todo o planeta. Sinopse: um general norte-americano paranóico ordena um ataque nuclear a União Soviética. O presidente dos Estados Unidos tenta contornar a situação, acalmar os russos e os seus próprios conselheiros e militares em uma longa reunião na sala de guerra, no pentágono (uma das cenas mais hilárias do filme é quando dois diplomatas brigam e o presidente dos EUA reprime: “Que vergonha, brigando na sala de guerra!”). Ponto Forte: no início, o filme intercala ficção (atores, enredo) com documentário (imagens, dados reais), até ficar totalmente ficção. A linguagem e o fato de ser preto e branco acentua o “falso” caráter documental. O filme brinca com todos os clichês da Guerra Fria: russos bêbados, militares lunáticos, governantes infantilizados, soldados simplórios. Aparece no filme toda a terminologia do período: combate nuclear, o Plano R, projeto altamente secreto, máquina do juízo final, “o final do juízo final”. Atuações brilhantes de Peter Seller e George C. Scott. O deboche da tecnologia e da burocracia norte-americana na Guerra Fria. O filme lembra uma história em quadrinhos, com personagens caricaturais e cenas absurdas, como a famosa cena do soldado montando a Bomba H como se fosse um cavalo. Atuações brilhantes de Peter Seller e George Scott. Ponto fraco: apesar de ser um filme muito interessante, para os padrões atuais ele parece lento, além de extremamente datado. Curiosidade: a reprodução do avião B-52 e das bombas nucleares foram tão perfeitas que o FBI chegou a investigar os responsáveis pela reconstituição.

O melhor do filme são os discursos bélicos e paranóicos de um general norte-americano vivido por George Scott:
“A guerra é importante demais para ser deixada para os políticos. Eles não têm tempo, nem treinamento, nem inclinação para o raciocínio estratégico. Eu não posso mais ficar sentado vendo a infiltração comunista, a doutrinação comunista, a subversão comunista e a conspiração do comunismo internacional solapando e sujando os nossos fluidos vitais”
“Os comunas não tem respeito pela vida humana. Os comunas bebem vodca, nunca bebem água. A água é a fonte da vida”
“Se lançarmos um ataque surpresa podemos destruir 90% da sua capacidade nuclear. Perdas de 10 a 20 milhões de pessoas no máximo”
“Produzir no cérebro do inimigo o medo”.

Outros dois aspectos da Guerra fria aparecem no filme: o fato da propaganda ser tão importante quanto as armas (“Toda a intenção da Máquina do Juízo Final se perde se ela se manter em segredo”) e o artificialismo do modelo soviético, que levou a ruína do sistema na URSS, pois aos gastos com a guerra eram excessivos, gerando um descuido na questão social (“a despesa causada pela corrida do exército, a corrida para o espaço e ao mesmo tempo nosso povo reclamava mais meias de nylon”).

A série 007 é um produto extremamente datado da Guerra Fria: mísseis, objetos autodestrutivos, satélites, espiões, CIA, substancias radioativas, energia atômica. A alegoria extremamente simplória do período hoje ficou caricatural. Por exemplo, no filme 007 Contra o Dr No, uma produção inglesa/norte-americana, o vilão é filho de um alemão com uma chinesa (a Alemanha de duas guerras mundiais com a Inglaterra e a China comunista). Hoje, podemos assistir a série como comédia. Bond para outro espião: “Estamos então no mesmo lado da Guerra?”. Bond para Dr. No: “com o seu desprezo pela vida humana deve estar trabalhando para o leste”. Dr No para Bond: “Sou membro do esprecto, executivo especial da contrainteligencia, terrorismo retaliação e extorsão”. Bond para Dr. No: “Não vai conseguir desta vez Dr. No, os americanos estão fortemente preparados”. Em Moscou contra 007 um soviético descreve um dos seus agentes: “é um dos melhores que já tivemos, homicida, paranóico, elemento excelente, embora seus métodos sejam um tanto cruéis, sua resposta ao treinamento e doutrinação vem sendo notável”.

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